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Publicado em July 2, 2008, 11:57 a.m. - Notícias Fitrae

Momento mais favorável para o movimento sindical-Altamiro Borges



Em entrevista à coluna Debate Sindical, Altamiro Borges fala sobre a fragilidade do império do mal, os Estados Unidos, como um dos fatores que favorecem a correlação de forças para os movimentos sociais, como o sindical. E destaca a luta pela redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais como a grande bandeira unificadora do movimento sindical brasileiro.



Debate Sindical – Para quê e porque os trabalhadores lutam hoje?



Altamiro Borges – Eu penso que hoje a grande luta dos trabalhadores é pela redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais. Essa luta conseguiu unificar as principais centrais sindicais brasileiras. Essa luta está tendo uma compreensão do governo federal. Recentemente, o presidente Lula afirmou que estava havendo um grande crescimento da lucratividade das empresas em função da maior produtividade decorrente das novas tecnologias e que estava na hora de repartir essa lucratividade, então defendeu a redução da jornada. Essa luta interessa aos desempregados e aos trabalhadores que estão na ativa. Aos desempregados, porque o Dieese calcula que reduzindo a jornada de 44 para 40 horas semanais de imediato seriam criados dois milhões e 250 mil empregos. E se, além disso, for controlada a hora extra, acabar com os bancos de horas que são uma excrescência, e adotar outras medidas na questão das horas extraordinárias mais um milhão e 100 mil empregos seriam criados. Isso, então, resultaria numa geração grande de emprego. Isso ocorreu na França, por exemplo, quando reduziu a jornada de 40 horas para 35 horas semanais.



Debate Sindical – E aos trabalhadores que estão na ativa?



Altamiro Borges – Interessa aos trabalhadores que estão na ativa. Hoje a maioria da população está concentrada nos centros urbanos, então trabalha oito, dez, 11 horas durante o dia, perde mais três horas no transporte, (o trabalhador) não tem tempo para nada. Ele leva uma vida sem sentido. Ao reduzir a jornada de trabalho o trabalhador tem mais tempo para estudar, para lazer, para participar das atividades sindicais, inclusive, e vai ter mais tempo para namorar. O que é um negócio muito positivo. Então eu acredito que essa é a grande bandeira do momento: a redução de jornada de trabalho para 40 horas semanais.



Debate Sindical – Tem mais bandeiras ou é só essa da redução da jornada?



Altamiro Borges – Tem outras duas bandeiras que ganharam importância. Recentemente, o governo federal encaminhou uma mensagem (ao Congresso Nacional) propondo a ratificação das convenções 151 e 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). A primeira, a 151, garante o direito do servidor público de negociação coletiva. E a segunda, a 158, que entendo ser uma medida de grande impacto, proíbe a demissão imotivada. Hoje, no Brasil, o patronato utiliza a demissão imotivada com dois fins: um é estimular a rotatividade para rebaixar o salário, esse é um motivo econômico; e o outro é um motivo político, uma forma de ameaça, se a pessoa se sindicaliza, participa de uma assembléia ou faz uma crítica é demitido levianamente. Essa Convenção 158 proíbe essas demissões por motivos políticos. Então isso teria um grande impacto e fortaleceria muito o movimento sindical e acabaria com uma grande injustiça.



Debate Sindical – O senhor tem um livro com o título “A Encruzilhada do Sindicalismo”, e agora lançou o livro “Sindicalismo, resistência e alternativas”. A qual sindicalismo, resistência e alternativas o senhor se refere?



Altamiro Borges – De um livro para o outro são três anos de diferença. De três anos para cá, eu avalio que ocorreram mudanças no Mundo do Trabalho e na correlação de forças.



Debate Sindical – O senhor se refere ao Brasil ou é um fator de mudança no sindicalismo mundial?



Altamiro Borges – Mundial. O movimento sindical não é uma ilha. Ele reflete o que passa na sociedade. Ele reflete e interfere. Então depende muito da correlação de forças. Eu acho que de três para cá houve uma alteração de correlação de forças. Por que que eu falo isso? Por exemplo, os Estados Unidos, que no meu entender são o grande inimigo da humanidade, se fragilizaram nesse período. Como diz o professor Emir Sader, você mede a força de um império nas armas, no dinheiro e nas palavras. E nos três quesitos os Estados Unidos se fragilizaram. Estão sofrendo um bocado no Iraque e no Afeganistão. No dinheiro, não precisa nem falar, é uma economia que está “bichada”, totalmente parasitária, pendurada na brocha, quebrando. E nas palavras vamos ver o triste fim desse presidente terrorista George W. Bush. Ele está para ser expulso da Casa Branca. Há, inclusive, um fenômeno nos Estados Unidos que é o descontentamento acabou se expressando numa candidatura que ninguém iria imaginar um tempo atrás, de um negro, num país que tem uma marca racista muito forte. Esse é um fator que favorece o movimento dos povos do mundo inteiro, o império do mal está frágil, não é que ele esteja derrotado ou caindo.



O segundo fator é que cresce a resistência no mundo inteiro, seja do movimento jovem que procura um outro mundo é possível, seja a resistência de potências rivais que vão nascendo, como China, Índia, Rússia, mesmo o Brasil joga um papel nisso. Seja a resistência que se dá dos povos no nosso Continente. A América Latina está vivendo uma situação inédita. O professor José Luiz Fiori tem ressaltado isso. Nunca aconteceu, na América Latina, tantos governos progressistas, com ritmos e concepções diferenciados, estarem hegemonizando a América Latina hoje. Isso também é um fator que fortalece a luta dos trabalhadores.



Debate Sindical – E no Brasil?



Altamiro Borges – No Brasil há fatores que fortalecem a luta do movimento sindical. Esse tímido crescimento da economia, apesar do “pé no breque” do Henrique Meirelles (presidente do Banco Central) e dos riscos dos efeitos da recessão dos Estados Unidos no Brasil, apesar de tudo isso esse tímido crescimento da nossa economia gera emprego. Ao gerar emprego, aumenta o poder de barganha dos trabalhadores. Segundo o Dieese, quase 90% dos acordos coletivos do ano passado obtiveram aumento real de salário, fato inédito nas últimas décadas. Nós estávamos conseguindo só corrigir a inflação e olhe lá, quando não ficava abaixo da inflação o reajuste salarial. Isso decorre do emprego. Aumentou o número de emprego, aumenta o poder de barganha do trabalhador. Pela primeira vez em 20 anos, tem trabalhador pedindo as contas. Ele acha que tem condições de arrumar emprego melhor. Isso aumenta a auto-estima do trabalhador, inclusive.



Debate Sindical – Estamos num cenário diferente?



Altamiro Borges – Nós estamos começando a discutir medidas de ampliação de direitos, e não reduzi-los. É o caso das 40 horas semanais, das convenções 151 e 158, do fim do fator previdenciário, que é uma injustiça com os aposentados e pensionistas, da legalização das centrais sindicais. Ou seja, nós estamos num cenário realmente diferente, se o movimento sindical vai conseguir aproveitar isso para resolver a sua crise estrutural é outra coisa, só a história vai dizer, mas que as condições hoje são mais favoráveis eu penso que são.







Fonte: http://www.portogente.com.br/

Autor: Rosângela Ribeiro Gil

Data: 26/6/2008
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