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Publicado em April 6, 2015, 9:38 a.m. - Notícias Fitrae

Há risco de racionamento de água e energia?

O período de chuvas no País está no fim e os principais reservatórios brasileiros não recuperaram níveis seguros para atravessar a estação seca, de abril a outubro. A expectativa é de meses críticos para o abastecimento de água e de energia no Brasil. As chuvas que caíram com mais força a partir de fevereiro não foram suficientes para encher as represas. Os sistemas Cantareira, supridor da Região Metropolitana de São Paulo, do Paraíba do Sul, que abastece o Rio de Janeiro, e do Paraopeba, fornecedor de água para Belo Horizonte, estão hoje mais baixos do que há um ano, assim como as represas das hidrelétricas das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. “O ponto de partida do período seco está muito ruim. Mesmo que chova em abril, as precipitações deverão ser mais fracas”, diz o meteorologista Alexandre Nascimento, do Climatempo. Na quarta-feira 25, o nível do Cantareira era de 18% do volume morto (abaixo do nível de captação por gravidade), o do Paraíba do Sul, de 14% do volume útil, e o do Paraopeba, de 37% do volume útil.


Os governos federal e de São Paulo afirmam que, apesar do cenário difícil, não haverá racionamento de água e energia neste ano. Todos trabalham, porém, com margens mínimas de segurança. No caso do setor elétrico, seria preciso chegar ao fim de abril com no mínimo 30% de capacidade armazenada nos reservatórios dos sistemas Sudeste/Centro-Oeste e Nordeste. Historicamente, o nível recua cerca de 20 pontos porcentuais no período seco. Na terça-feira 24, as duas áreas, responsáveis por 88% da capacidade de armazenamento do Sistema Interligado Nacional, estavam com 26,8% e 21,8% do nível máximo, respectivamente, menos do que em março de 2014, quando o sistema Sudeste/Centro-Oeste estava com 36% e o do Nordeste, com 41,5%, porcentuais inferiores à média histórica, em torno de 70%.


Segundo Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética, órgão do governo federal responsável pelo planejamento do setor, apesar de as hidrelétricas contarem com menos água em comparação a 2014, o risco de déficit de energia está em 6,1% no Sudeste/Centro-Oeste, e em 1,2% no Nordeste, porcentuais mais baixos que em 2001, ano do apagão, quando foram de 14,8% e 17,3%, respectivamente. “A probabilidade de racionamento é baixa, mas só no fim de abril, término do período úmido, poderemos afirmar com certeza. Entraram em operação 7,5 mil megawatts adicionais em 2014, um incremento de 6% no sistema, dos quais 2,6 mil megawatts são de energia eólica, importantes para a operação no período seco. Para 2015, a expansão da oferta planejada é de 6,5 mil megawatts.


Mesmo com a entrada de geração nova, os empresários estão apreensivos, diz Cristopher Vlavianos, presidente da comercializadora de energia Comerc. “É uma loteria. Sabe-se que no período seco cerca de 5% do consumo passa a ser atendido pela queima de biomassa, e as eólicas geram mais, mas as usinas térmicas têm sido utilizadas no limite há mais de dois anos, ritmo que deve continuar em 2015. Espera-se a ocorrência de chuvas só no começo do próximo período úmido, em outubro.” Segundo Vlavianos, a atividade industrial baixa e o aumento do preço da energia devem contribuir para reduzir o consumo e diminuir a pressão por um racionamento de energia. A expectativa do Operador Nacional do Sistema é de um aumento de apenas 0,2% no consumo de energia em 2015. No ano passado, o consumo elevou-se em 2,2%.


Além da campanha para redução de consumo de energia lançada pelo governo federal no começo de março, outras ações emergenciais para evitar um racionamento serão tomadas, entre elas a importação de energia da Argentina e do Uruguai, o acionamento da usina termelétrica de Uruguaiana e o aumento das transferências da eletricidade gerada no Norte e no Nordeste para o Sudeste.


O evento extremo de estiagem iniciado em 2013 atinge o Sudeste e o litoral do Nordeste. A situação atual leva os especialistas a prever tempos difíceis até o fim de 2016 e a necessidade de ações de médio e longo prazo, além das medidas emergenciais. Para o secretário-executivo do consórcio dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, Francisco Lahóz, é importante a Região Metropolitana de São Paulo e as cidades litorâneas do Nordeste investirem em usinas de dessalinização da água do mar. O Açude Castanhão, maior reservatório do Ceará, que atende a Região Metropolitana de Fortaleza, está com 22,7% da capacidade, e na mesma época do ano passado estava com 38,5%. O investimento na captação de água do mar para abastecer a capital permitiria, afirma Lahóz, direcionar a água dos açudes para o interior do Estado, onde a população padece com a seca contínua. “No caso de São Paulo, a nossa proposta é construir uma usina de dessalinização o mais próximo possível do Sistema Cantareira, para manter o reservatório sempre em 80%. O maior custo é o da construção de adutoras do nível do mar até o planalto 800 metros acima, mas é possível obter alguma receita com a comercialização do resíduo de sal”, diz ele.


A ideia não conta, até o momento, com o apoio da Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo, a Sabesp, que aposta em outras ações para enfrentar o período extremo. “Se concentrarmos investimentos em soluções para eventos de baixa probabilidade, estaremos tirando dinheiro de outras áreas importantes”, diz o presidente da empresa, Jerson Kelman. Segundo ele, as chances de o evento climático de 2014 acontecer era de 0,4%, a partir de uma série histórica. Entre os investimentos prioritários da companhia estão a integração dos diversos sistemas de distribuição, para permitir que moradores da região atendida pelo Cantareira recebam água de outros reservatórios, e a transposição da Represa Billings para o Sistema Alto Tietê, em estado de atenção com 23% da capacidade.


Apesar da situação crítica dos reservatórios do Sistema Cantareira, o executivo afirma que a possibilidade de racionamento em 2015 é “remotíssima”. Se ingressar no Cantareira 80% do volume de água recebido no ano passado, não haverá necessidade de racionamento, desde que a população mantenha o nível atual de economia até o fim do ano e não ocorram atrasos nas obras para redução do uso desse sistema. O objetivo é, ao longo do ano, diminuir dos 14 metros cúbicos por segundo de água retirados hoje para 9 metros. “Não contamos com a boa vontade de São Pedro, mas com a da população e a capacidade de a Sabesp fazer as obras a curto prazo”, diz Kelman.


A situação preocupa os empresários da indústria, mas, segundo Nelson Reis, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, existe hoje mais transparência da Sabesp para tratar do problema. “Estamos preocupados com as perspectivas para 2015, o que afeta os investimentos. Neste ano, centenas de empresas paulistas sofreram muito e tiveram de procurar alternativas de abastecimento.” A intensificação de esforços para enfrentar a crise hídrica resultou na generalização do reúso de água nas companhias, afirma Reis. Um levantamento realizado no fim de 2014 pelo Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Educação Continuada e pelo Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia do Instituto de Economia da Unicamp mostra, no entanto, que os esforços ainda estão longe do ideal. Segundo o estudo, 94,9% das empresas, indústrias, hospitais e hotéis do estado de São Paulo não contam com um plano para enfrentar a atual crise hídrica. Apenas 28,4% das empresas têm fontes alternativas de abastecimento e só 12,4% utilizam algum sistema de reúso.


Fonte Carta Capital - Reportagem publicada originalmente na edição 843 de CartaCapital, com o título "Gotas de menos"

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