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Publicado em April 22, 2009, 5:17 p.m. - Notícias Fitrae

Estrangeiros já controlam 25% do PIB e 40% das exportações

Estrangeiros já controlam 25% do PIB e 40% das exportações


O economista Reinaldo Gonçalves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse que o capital estrangeiro controla 25% do PIB brasileiro e mais de 40% das exportações e da produção industrial. Há setores, como o da indústria de bens de capital, em que essa participação chega a 60%. Segundo ele, esses números evidenciam o quanto a economia brasileira é vulnerável às oscilações internacionais.



Reinaldo Gonçalves, porém, ressalta que a participação de não-residentes na economia pode ser positiva para alguns países. "Cada caso é um caso, desde que o Estado, ao contrário do que ocorre no Brasil, seja capaz de maximizar a relação custo-benefício", ressalvou, durante palestra proferida no Conselho Regional de Economia (Corecon-RJ), que teve como tema "A evolução da crise e seus efeitos num ambiente de parque produtivo desnacionalizado."



Em entrevista ao Monitor Mercantil, o economista comenta o assunto:



O capital estrangeiro é bom ou ruim para um país?



A presença de não-residentes no aparelho produtivo é um dos temas mais pantanosos da literatura econômica. Ele vem sendo estudado desde o Século XIX. Recentemente, tenta-se juntar os aspectos comercial e jurídico. Nos anos 70, foi desenvolvida a teoria moderna da internacionalização da produção, aperfeiçoada nos anos 80, mas, já nos anos 50, houve tentativa de medir o impacto da presença dos não-residentes sobre o emprego, renda, exportações etc. O tema, por causa do poder econômico das multinacionais, acaba entrando na economia política.



Atualmente, como é tratado o chamado investimento externo direto (IED)?
Tenta-se medir o impacto do IED, não apenas para emprego, renda, balanço de pagamentos, finanças públicas e desenvolvimento tecnológico, mas também avaliando o poder dos não-residentes frente ao Estado e às empresas locais.
As multinacionais usam o aparelho de Estado de seu país de origem a seu favor. O tema entra na área de relações internacionais e política doméstica. Além disso, existe toda uma discussão sobre a questão social e cultural, à medida em que o não-residente traz novos valores para a sociedade e acaba afetando sua subjetividade.



Existe uma conclusão?



Em boa parte dos temas específicos, conclui-se que cada caso é um caso. Pode ter efeitos positivos ou negativos, de acordo com o objetivo do país. Exceto no caso das privatizações envolvendo não-residentes, que são sempre negativos, pois tendem a gerar problemas no balanço de pagamentos de cada país. Outra implicação importante: é fundamental que o Estado nacional tenha algum critério de custo benefício, algo que não ocorre hoje no Brasil. É recomendável exigir algum desempenho em relação a geração de empregos, transferência de tecnologia, investimento, conduta. O Brasil não tem isso. A China tem.



Qual o caminho adotado pela China?



A Embraer queria exportar aviões, mas a China exigiu que fosse feita associação com empresas chinesas para que aprendessem a fazer avião. Já o governo brasileiro financia empresas estrangeiras com dinheiro do BNDES. Esses extremos implicam diferentes relações custo e benefício. Por isso a literatura mais que centenária sugere não generalizar.



Qual a saída para o Brasil?



Adotar políticas de Estado focadas na maximização de custo e benefício. Se for o caso, que já houve no Brasil, adotar critérios de desempenho do ponto de vista do balanço de pagamentos. Em 1971, o governo fez uma lista de 115 empresas estrangeiras e o Ministério da Fazenda as chamou para exigir que importassem menos para resolver problemas de balanço de pagamento. Em contrapartida, receberam incentivos.



O resultado foi que houve uma mudança no padrão de comércio do Brasil. As multinacionais contribuíram para um up grade na área de manufaturados. Vale destacar que um empresário estrangeiro que vai fazer uma pousada em Arraial da Ajuda nada tem a ver com uma empresa que vai pegar dinheiro do BNDES para entrar num esquema de privatização de hidrelétrica, muito menos numa concessão de rodovia, que não traz nenhuma tecnologia, o capital é pequeno e gera passivo externo. O país faz uma cessão de direitos e se compromete com a remessa de lucros e dividendos.



O BNDES abriu agências no exterior para apoiar as empresas brasileiras que se internacionalizaram. Isso não compensa as perdas aqui dentro?



Um dos problemas centrais do desenvolvimento, e a literatura é clara nesse sentido, é o padrão de inserção internacional nas esferas comercial, tecnológica, monetário financeira e produtiva real. Há vários indicadores, como empréstimos intercompanhias, dependência tecnológica etc. Há diferença entre empresas que geram dólares e as que não geram. Países que têm grau muito alto de internacionalização da produção geram baixa capacidade de resistir a choques externos ou pressões externas.



Por quê?



As empresas tomam decisões em cima do quadro doméstico mas também a partir das orientações da matriz e do cenário externo. As multinacionais têm estratégias globais, por isso, boa parte das decisões tomadas aqui depende da estratégia global, de decisões tomadas a partir de variáveis exógenas, que são muito mais fortes para as não-residentes. Quanto mais empresas estrangeiras atuando no país, mais ele é afetado pela inversão dos ciclos internacionais. Ou seja, a vulnerabilidade externa na esfera produtiva real é acentuada pela presença de não-residentes e o Brasil é um dos países com maior grau de internacionalização da produção.



Mas o país não é tido como uma economia relativamente fechada?



Nossa história sempre foi essa: fechar o comércio e abrir o aparelho produtivo para não-residentes. Numa estimativa aproximada, os não-residentes controlam mais de um quarto do PIB brasileiro e mais de 40% tanto da produção industrial, quanto das exportações. Há segmentos nos quais eles têm presença definitiva, como indústria de bens de capital e a automobilística, nos quais a participação chega a 60%. Sempre fomos uma economia muito internacionalizada.



Quais as consequências disso?



Num país como o Brasil, diante da crise global aguda, ficamos com reduzida capacidade de resistência. A atuação das empresas depende das matrizes, que se aproveitam do resultado das melhores filiais. As cadeias produtivas das montadoras, por exemplo, dependem do mercado internacional, para ser bem preciso, em 19,5%. Como é uma cadeia produtiva muito significativa, pega desde a pecuária na produção de couro, para os bancos dos automóveis, até química, plástico, borracha, metalurgia, siderurgia ou eletroeletrônica.



Esse tipo de cadeia produtiva tem como eixo estruturante as montadoras e quando há um problema lá fora há um rearranjo nos fluxos financeiros, via remessa de lucros e dividendos, repatriamento de capital, pagamento de patentes, empréstimos inter-companhias, uso da tesouraria para cobrir buracos externos. Ou seja, um aparelho muito internacionalizado faz o país sofrer mais impacto. Isso é um fato concreto.



Por que, na sua opinião, o governo Lula deixou o país mais vulnerável?



O FMI, em março, divulgou relatório preparado para reunião do G-20 mostrando o que nós já sabíamos: Brasil e México estão sofrendo uma fortíssima desaceleração na economia. O aumento da vulnerabilidade começa na parte institucional, com o tecido social se esgarçando ainda mais. Na hora da mudança do ciclo internacional, fomos os primeiros vagoões a descarrilhar e seremos o que mais tempo demorará a se recuperar. Na época ascendente, fomos os mais retardatários.





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