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Publicado em Feb. 1, 2016, 9:59 a.m. - Notícias Fitrae

Artigo: Por que as desigualdades econômicas ameaçam a sociedade e a democracia

Por Ronaldo Herrlein Jr*


Os dados recentes divulgados pela Oxfam dizem respeito à crescente desigualdade de riqueza (patrimônio líquido) entre pessoas, considerando apenas a riqueza monetária ou material mensurável em termos monetários. A desigualdade de riqueza, que consiste em estoques de bens e valores, é decorrência de uma contínua desigualdade na apropriação das rendas geradas na economia, que são fluxos de bens e valores, anualmente mensurados pelo valor do PIB. Por isso, desigualdades interpessoais de riqueza e renda estão estreitamente relacionadas. A Oxfam também indica isso, ao apontar que, do aumento da renda mundial ocorrido desde 2000, a metade mais pobre da população mundial obteve 1%, enquanto o 1% mais rico obteve 50%.

Esses dados corroboram os resultados das pesquisas do economista francês Thomas Piketty e vão ao encontro de constatações análogas do FMI, da OCDE e do Papa acerca da crescente desigualdade de renda e riqueza na economia mundial, fenômeno que vem se verificando desde os anos 1980. É provavelmente correta a proposição de que o atual nível de desigualdade de riqueza seja o maior em um século. Na origem desse fenômeno estão certas tendências inerentes ao capitalismo, inclusive os efeitos da crise financeira iniciada em 2007. Para além dessas tendências, a desigualdade crescente também se explica pelas mudanças institucionais promovidas por meios políticos.

É interessante notar que os dados referem-se à desigualdade de riqueza e renda e não às condições de pobreza (considerada como privação de renda e riqueza), pois a proporção de pobres no mundo vem se reduzindo. Ocorre que a redução da proporção de pobres resulta principalmente do crescimento econômico da China e da Índia, que adotaram nas últimas décadas políticas de desenvolvimento conduzidas pelo Estado e apoiadas crescentemente nos mecanismos de mercado. Nesses dois países, a desigualdade de renda e riqueza acentuou-se no mesmo período. Isso parece indicar que os mecanismos de mercado podem promover um crescimento econômico, porém ao custo do aumento das desigualdades de renda e riqueza entre as pessoas da mesma nação ou mesmo numa escala interpessoal mundial.

Aumento da renda dos mais pobres, porém em menor proporção que a renda dos mais ricos, ampliando a desigualdade, é uma característica do capitalismo reconhecida por Adam Smith já na introdução de A Riqueza das Nações. John Stuart Mill denunciou a extrema desigualdade da economia capitalista inglesa no século 19, preconizando reformas institucionais redistributivas. Atualmente, a sabedoria econômica convencional tende a aceitar e endossar esse tipo de resultado distributivo promovido pelo mercado, sob o mesmo argumento de Smith, de que a riqueza em crescimento acaba atingindo também os mais pobres, que melhoram suas condições materiais (efeito trickle down). Argumenta-se também que a distribuição promovida pelo mercado tende a ser justa, por premiar cada indivíduo segundo sua contribuição produtiva pessoal ou dos recursos que possui. Contudo, os dados da Oxfam indicam que o efeito trickle down tem sido praticamente nulo nos últimos 15 anos, enquanto a desigualdade de renda e riqueza alcança níveis extremos, que não podem ser explicados pela contribuição produtiva de indivíduos e seus recursos. Assim, a situação recente assemelha-se mais ao prognóstico de outro pensador do capitalismo, Karl Marx.


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** Professor do PPG em Economia da FCE-UFRGS.


Fonte: Portal Vermelho


 


 
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